quinta-feira, 27 de maio de 2010

ESPIRITUALIDADE E RELIGIÃO


Temos a ver com a espiritualidade, quando mergulhamos nessa profundidade de nós mesmos e experimentamos a realidade como um todo.

Espírito é aquele momento de nossa consciência que nos abre à percepção de que somos parte de um todo e de que pertencemos ao todo.

Espiritualidade tem a ver com experiência, não com doutrina, não com dogmas, não com ritos, não com celebrações, que são apenas caminhos institucionais capazes de nos ajudar na espiritualidade, mas que são posteriores a espiritualidade.

O meu contato com religião, é claro, veio desde os 7 anos, quando estudando em colégio de freiras, além da obrigação da missa diária, faziam-nos preleções ameaçadoras, dando-nos uma noção aterradora de "pecado" e seu prováveis castigos divinos.
O incrivel é que apesar de toda essa lavagem cerebral, a imagem de Jesus ( sem crucifixo), num rosto terno e amoroso é o que mais lembro. Pela adolescencia tive a oportunidade de me aprofundar em estudos e filosofias religiosas, optando pela linha espirita de meu pai.
Foi muito bom ter a noção de que "fora da caridade não há salvação", ou seja, faça pelo próximo aquilo que gostaria que fizessem a voce.

Me dediquei por anos participando de sessões e lendo evangelhos, que para mim foram a afirmação de minha espiritualidade. A Umbanda apareceu em certo momento, na carencia de ajudar as pessoas mais humildes, de ouvi-las e aconselha-las através de um guia.
Mas após todo esse aprendizado,numa linha de evolução natural, transformou-se em mim em pura "espiritualidade".
É maravilhoso quando a religião ou determinado caminho espiritual consegue de fato canalizar a experiência espiritual e nos levar continuamente a beber da fonte, despertando um auto-conhecimento.

Acredito que todas as religiões excederam os limites de sua finalidade legítima, o que quer que puderam reivindicar ser.
A alma é o centro de nosso ser, ela é a causa primordial, catalisa a vida na existência e a ação, fora do vácuo físico, fora do tempo-espaço!
Hoje, o que está em crise não é a espiritualidade.
São as formas tradicionais de religião. Nesse mundo secularizado, desencantado, os valores são substituídos pelas ciências; o ser pelo ter; o ideal pelo desejo; o altruísmo pelo consumismo.

Espiritualidade não quer dizer necessariamente religiosidade.
É o equilíbrio de nossas forças internas. É um atributo pessoal que nos dá serenidade e força para agirmos no mundo exterior.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

TAROT e ARTE


A espiritualidade está constantemente presente em nossas vidas, nos influenciando, nos enviando avisos, conselhos e luzes. É o "pão nosso de cada dia", a luz que nos é enviada pelo Criador para dar sustento em nossa jornada. Neste sentido, é necessário dar ouvidos à espiritualidade, deixar nossas opiniões um pouco de lado e receber os conselhos que ela nos envia.

Hoje em dia se tornou comum, pessoas procurarem, em sentido amplo, orientações profissionais através do Tarot. Tais consultas e orientações, destacam-se pela busca de uma análise e de descobertas a partir das diferentes dimensões, traços ou características que são identificadas no jeito de ser dos indivíduos.

Muitos utilizam o Tarot de forma oracular, analisando ou interpretando os fatos do passado, presente impactantes na vida do consulente e efetivando previsões de futuro, facilitando, por meio de orientações ou de conselhos, os próximos passos que poderão ser dados por ele em sua jornada. Essa é a forma mais antiga de se trabalhar com o Tarot, com suas bases densificadas a partir de estudos ocultistas no século XIX. É a taromancia de análise do destino e da sorte do indivíduo.

Um outra linha de aplicação mais recente, do ponto de vista da História do Tarot, é a linha focada no autoconhecimento, a qual possui suas bases na ontologia reflexiva(em grego ontos e logo, "conhecimento do ser") , na psicologia jungiana dos símbolos e arquétipos etc cuja finalidade é o encontro do indivíduo consigo mesmo, com seus valores, medos, bloqueios, visões de mundo etc, para a partir desse estágio ele, como um ser ativo, implementar ações necessárias para a sua transformação e evolução. É a taromancia-terapêutica centrada no indivíduo e em seu poder de autotransformação.

Enfim, afora toda esse poder de interpretação e adivinhação, o Tarot me fascina por um motivo óbvio: como artista plastica sou apaixonada pelas figuras das cartas ,uma mais incrivel que a outra, que habitam as várias culturas que lidaram e lidam com o Tarot.
O Tarot de Marselha, o Egipcio, o Cigano, cada um tem sua expressividade.
Existe um Tarot baseado na obra de Salvador Dali, outro nas figuras mitológicas,o gótico, até um Tarot Sutra, baseado no Kama Sutra, e por ai vai, cada vez mais fascinante! Ja tentei me aprofundar nessas 78 cartas, estudando sua simbologia e tentando decorar cada lâmina, mas ainda não consegui um bom resultado. Somente a minha intuição e meu auto-conhecimento me dão as respostas exatas quando manipulo esse baralho mágico. E as respostas vem certeiras!

Atualmente manipulo um Tarot moderno, com cartas desenhadas por uma artista plástica brasileira, Luciana Adib, que curiosamente desenha um homem numa moto veloz para identificar o Cavaleiro de Copas.
A história do Tarot misturou-se às mais variadas lendas, culturas, povos e credos, de forma que hoje abarca uma gama praticamente infinita de teorias, flertando com campos como História, Mitologia e até a Psicologia.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

PÃO,VINHO E SENTIMENTO


Pode até ser que num primeiro momento a comida tenha em nossa vida um papel eminentemente funcional, ou seja, prover energia.

Contudo, o ato de se alimentar não é diferente de outras práticas humanas. Logo, para os seres humanos, comer está tão associado às emoções como fazer sexo ou trabalhar. Desde o útero materno nossa relação com a comida vai sendo margeada pela vivência emocional de nossas mães. Pois é, o bebê pode compartilhar tanto as emoções negativas quanto as positivas vivenciadas pela mãe. Essa interação emocional se dá por meio da presença de hormônios associados a cada tipo de emoção, e que chegam até o feto via placenta.

A medida que crescemos, aprendemos que a comida também serve como ponto de contato entre pessoas, de forma geral. E isso, numa familia tipicamente italiana, significa tudo, ou seja: riso, choro, cantoria, prazer geral, degustação e reafirmação de raizes! Entre 1860 e 1890 desembarcaram 974 mil italianos no Brasil que trouxeram um gosto especial pelas massas com farinha de trigo, com os molhos densos e condimentos. Dentre eles meu avô, que além de ser um soldado "cozinheiro" na guerra de 1914 ( 1a. Grande Guerra ),fundou uma Padaria na Bela Vista, conhecida até hoje, a "Basilicata".
Então, o cheiro do pão assado, e o gosto dele, quente com manteiga, me remete a lembranças lindas, de alegria e fartura.

Assim como o vinho caseiro, feito em São Roque, que experimentavamos semanalmente na companhia risonha de vovô Filippo, que passou-me vários ensinamentos a cada taça bebida: a cor é a melhor pista para o exame do vinho ainda na garrafa, observando-o contra a luz, o vinho estará bom sempre que seus reflexos forem da gama do vermelho e estará em perigo ao aproximar-se do marrom escuro, quando ele literalmente estraga!

Ainda hoje, mais conhecedora de uvas e vinhos, preferindo alguns chilenos com a uva "carmenére" e ainda apreciando o bom "beaujolais" frances, toda vez que ergo uma taça de vinho para brindar, não esqueço duas frases que o vovô Filippo dizia, todo sorridente em bom italiano: " Salutti e feliccitá, figli maschi in quantitá" - e emendava com a razão de seus noventa e poucos anos de idade: " Piano, piano se vá lontano"!

segunda-feira, 3 de maio de 2010

IMPRESSÕES DE MARCELO GRASSMAN


Garota ainda, perto dos 16 mas ja ansiosa por tudo que se relacionasse á arte, ganhei de meu pai um livro de arte do pintor Presciliano Silva e um violão novinho para meus estudos de musica classica.

Juntamente com essa primeira percepção de arte, pude tomar contato com um artista completamente original e diferente de tudo o que eu vira até então: Marcelo Grassman.
Meu pai enfronhado nos meios publicítários, sempre em contato com agencias, ganhara uma pequena gravura do artista e me passava ás mãos para que eu o admirasse.
Num primeiro momento fiquei chocada, em outro, tive a impressão de ter encontrado uma porta aberta, aquela que se propôe a nos mostrar mil caminhos e opções.

Disse Marcelo Grassman sobre sua arte: "Não tenho opinião definida sobre nada, o lado consciente participa pouco do meu trabalho, eu diria que passo por um processo meio mediúnico. De tanto discutir o porque disso ou daquilo, acabei aceitando algumas opiniões. Expressionismo. Realismo Mágico. E todos os outros etceteras que muitos disseram.."

Um critico muito observador disse que -
"Grassmann é deliberadamente arcaico, seu mundo é o de um faizeur de diables, flor perdida no tempo e no espaço do gótico fantástico"...
E foi isso que eu senti na época, uma manifestação do inconsciente de uma força magnifica! Talvez um conceito espiritualista...
Essa tal gravura que vi um dia nas mãos de meu pai, nunca mais tive noticias. Não sei se ele deu a alguem ou vendeu.

A partir do momento que tive conhecimento desse artista, e de tantos outros que marcaram com seu estilo uma época, percebi que minhas ideias e sensações poderiam se expressar livremente, sem amarras ou rédeas.E percebi tambem que meu imaginário, meu universo iconográfico, poderia escapar a classificações apressadas.

Alguns dizem que minha obra é expressionista, outras, figurativa contemporanea...Mas eu tambem quando estou pintando, não me sinto num processo totalmente consciente, como disse Marcelo Grassman. Acho que no fundo, todo artista quando trabalha, está além, muito além de onde estão pisando os seus pés.