segunda-feira, 17 de maio de 2010

PÃO,VINHO E SENTIMENTO


Pode até ser que num primeiro momento a comida tenha em nossa vida um papel eminentemente funcional, ou seja, prover energia.

Contudo, o ato de se alimentar não é diferente de outras práticas humanas. Logo, para os seres humanos, comer está tão associado às emoções como fazer sexo ou trabalhar. Desde o útero materno nossa relação com a comida vai sendo margeada pela vivência emocional de nossas mães. Pois é, o bebê pode compartilhar tanto as emoções negativas quanto as positivas vivenciadas pela mãe. Essa interação emocional se dá por meio da presença de hormônios associados a cada tipo de emoção, e que chegam até o feto via placenta.

A medida que crescemos, aprendemos que a comida também serve como ponto de contato entre pessoas, de forma geral. E isso, numa familia tipicamente italiana, significa tudo, ou seja: riso, choro, cantoria, prazer geral, degustação e reafirmação de raizes! Entre 1860 e 1890 desembarcaram 974 mil italianos no Brasil que trouxeram um gosto especial pelas massas com farinha de trigo, com os molhos densos e condimentos. Dentre eles meu avô, que além de ser um soldado "cozinheiro" na guerra de 1914 ( 1a. Grande Guerra ),fundou uma Padaria na Bela Vista, conhecida até hoje, a "Basilicata".
Então, o cheiro do pão assado, e o gosto dele, quente com manteiga, me remete a lembranças lindas, de alegria e fartura.

Assim como o vinho caseiro, feito em São Roque, que experimentavamos semanalmente na companhia risonha de vovô Filippo, que passou-me vários ensinamentos a cada taça bebida: a cor é a melhor pista para o exame do vinho ainda na garrafa, observando-o contra a luz, o vinho estará bom sempre que seus reflexos forem da gama do vermelho e estará em perigo ao aproximar-se do marrom escuro, quando ele literalmente estraga!

Ainda hoje, mais conhecedora de uvas e vinhos, preferindo alguns chilenos com a uva "carmenére" e ainda apreciando o bom "beaujolais" frances, toda vez que ergo uma taça de vinho para brindar, não esqueço duas frases que o vovô Filippo dizia, todo sorridente em bom italiano: " Salutti e feliccitá, figli maschi in quantitá" - e emendava com a razão de seus noventa e poucos anos de idade: " Piano, piano se vá lontano"!

2 comentários:

Zé Clemente disse...

Brilhante, maravilhoso. Você deveria escrever um livro.

Eu me lembro de você falando da padaria. Essa é uma estória que merece ser contada capítulo por capítulo do comêço ao fim. Seria um romance dos melhores.

O tempo passa e as coisas mudam muito. Se eu tomar uma única cerveja me dá dor de cabeça, às vêzes no mesmo dia.

Vinho tinto eu posso tomar 3 garrafas sozinho num dia e no outro estou nôvo.

Mariza Vitoria disse...

Obrigada, voce sempre me incentiva!Mas eu sou tambem uma grande admiradora de seus textos.
Um abraço
Mariza