sábado, 19 de junho de 2010

O PIANO


O piano frances, de um século atrás e com janelas para candelabros, ainda esta na casa de minha mãe. Negro, brilhante, metálico, maravilhoso. Minha descoberta aos 4 anos de que eu tinha musica em meu sangue e minha alma, se deu ao encostar meus pequenos dedinhos em suas teclas brancas, toquei algo e as pessoas se admiraram.
As 10 fui cantar com minha mãe na Igreja D'Achiropita, voz forte, timbre soprano, as pessoas viravam a cabeça para ver quem cantava.

Minha mãe, professora renomada de piano tentava me ensinar pautas musicais e solfejos, mas minha ânsia era muito, muito maior. Tirava de ouvido Chopin e Debussy, alguns aplaudiam supreendidos, minha mãe insistia no aprendizado musical, aborrecida.
Na adolescencia me pegavam pra tocar de surpresa em reuniões e barzinhos, eu timida de tudo, tocava abstraida. Até hoje, em todas as reuniões de familia, me chamam para tocar todas as musicas italianas que são cantadas desde o tempo de meus avós. E todas as outras que fazem as pessoas dançarem e cantarem.

Ate que meu pai, espiritualizado, disse que eu havia trazido esse dom de outras vidas, tamanha a minha facilidade em tirar qualquer tipo de musica, na hora.

E comecei a me entregar, todas as tardes, sentada solitaria ao piano, fechava os olhos e esquecida de tudo, tirava de ouvido as musicas que mais me sensibilizavam.
Até que um dia, apos os 40 anos, meio entristecida, sentei-me ao velho piano e redescobri novos acordes, novas musicas, clássicas e populares, um prazer de pele e de alma.
E vi o lugar. Todo em mármore branco, uma entrada de colunas gregas, salão enorme todo branco tambem. Janelas altas onde um vento balançava cortinas de tule, tudo branco, puro, luminoso. No meio do salão um piano de cauda, negro, majestoso.
Meu coração pulava feliz, lá era o meu lugar, lá estava a minha essencia artistica, o meu eu. Encontrei a minha casa verdadeira.

No plano superior me foi dada essa visão que até hoje sinto como verdadeira ,um lugar especial destinado a todo tipo de artistas, musicos, pintores, literatos, atores...
Foi de lá que eu vim. É para lá que eu vou.

2 comentários:

Zé Clemente disse...

Outro dia eu ia escrever sobre Chopin e esqueci. Vou deixar a tarefa para uma colaboradora minha.

Há duas pessoas que eu conheço que tocam piano de ouvido. Voce e um amigo que me surpreendeu um dia na casa dele. Uma noção de tempo incrível. Não le uma nota de partitura.

Acho o piano um instrumento de pessoas inteligentes. Para se tocar piano é preciso inteligência, entre outros atributos.

Rss, então o velho piano está lá ainda.

Parabéns, belíssimo post

Paulinha Popovic disse...

Incrivel mãe..
parabens pelo dom
me orguilho de vc
beijos