quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

MAYSA


Lembro-me quando eu despontava na adolescencia ja criando corpo ,as pessoas mais velhas me chamavam brincando de Maysa Matarazzo, pois além dos olhos verdes, tinhamos semelhança no nome.

Diante de toda a polêmica que a cantora Maysa causava com sua postura e seu jeito de cantar, mostrado recentemente numa minissérie da Globo, nada melhor que uma biografia autorizada, ou seja: Maysa deu à jornalista carioca Lea Penteado uma biografia escrita do proprio punho.

O encontro se deu em 1973, e a biografia escrita pela própria cantora, segue abaixo.

* * *
“Nasci no Rio, sou de gêmeos, dia 6 de junho. Nasci em Botafogo, em casa mesmo, na Rua Visconde de Silva. Hoje em dia é uma clínica, tenho imensas saudades daquela casa e sempre sonho com ela.
Tenho um irmão, Alcebíades, já casado com Dorinha e tem uma filha linda, chamada Maysa como eu. Meus pais são maravilhosos, minha mãe é linda e papai tem os olhos mais azuis que já vi.

Sempre foram meus amigos e companheiros em tudo e para tudo.
Só não gostaram quando eu comecei a cantar. Deram o não. Hoje, porém são fãs incondicionais.
A música sempre foi importante prá mim, desde menina. Minha tia Lia era pianista excelente e quando ela estudava, eu ficava horas e horas sentada ao lado dela ouvindo música clássica.
Aos três anos eu já sabia tocar alguma coisa com os dois dedinhos.

Aos seis ia dar meu primeiro concerto de piano mas caí doente com sarampo. Aos sete outra vez, mas tive catapora: assim nunca pude levar a serio uma carreira de pianista, hoje uma de minhas frustrações.
Já casada, esperando Jayminho, meu filho hoje com 17 anos, numa festinha em casa toquei algumas de minhas músicas que compunha desde os 13 anos.
Estava lá Roberto Corte Real que me convidou para gravar um disco logo que o “baby” nascesse.

Meu pai era muito amigo de Silvio Caldas, Elizeth Cardoso, que sempre estavam lá em casa. Silvio foi a primeira pessoa que me ajudou a tocar violão. Com Elizeth aprendi muito para depois partir para cantora.
Não foi fácil conseguir ser profissional.
Para poder seguir essa profissão tive que abrir mão de muitas coisas e por fim não podendo mais, larguei até meu casamento, minha casa enfim, a minha vida de moça de sociedade para seguir a minha verdadeira estrada.
Devo ter mais ou menos uns 23 LPs. Muitos feitos no Brasil, 2 nos States, Itália, Espanha, Argentina, etc.
Compus muitas e devo ter gravado umas 50. Elas sempre refletiam meu estado de alma, minha tristeza e solidão. Nunca consegui escrever nada alegre.
Fora do Brasil estive 7 anos.
As razões foram várias, mas a a principal foi meu segundo casamento. Meu segundo marido, Miguel Azanza, era espanhol e todos os seus negócios estavam na Espanha.
Segundo, foi querer levar Jayme para que ele tomasse contato com a vida num local onde ele fosse apenas Jayme, e não Jayme Matarazzo. Para que ele aprendesse a se valorizar pelo o que ele é e não por outras coisas que poderiam ocorrer em face de seu nome.
Com a morte de André, meu primeiro marido, levei Jayminho para a Espanha e não me arrependo.
Atualmente a minha vida chegou a um ponto onde há um equilíbrio agradável, embora eu esteja dando os meus primeiros passos para que o equilíbrio seja total.
Muitas vezes ainda me sinto perdida, só, o que é normal para quem se colocou tanto tempo nessa situação.
Carlos Alberto e eu temos muitas coisas em comum, inclusive uma vivência adquirida nos tantos erros anteriores. Fomos pessoas machucadas e machucamos. Tudo o que sou agora é uma conseqüência lógica do que passei. Só que procuro tirar de bom o que ficou e jogar fora o que não interessa.
Há anos venho em busca de um local que me permitisse uma paz quase que inacreditável. Antes era na Barra da Tijuca, há 16 anos atrás onde eu tinha uma casa e vivia em perfeita harmonia com meus bichos, o mar e uma turma da pesada.
Hoje é uma praia distante onde vivo na mais completa harmonia com Carlos, os bichos, o mar e mais ninguém a não ser essa nova expressão que está nascendo em mim já há algum tempo, que é a pintura. Levei um piano onde pretendo compor algumas coisas, levei meu cavalete, meus discos e levei a minha paz que, justamente com a de Carlos, nos faz pensar num pra sempre.
Jayminho hoje tem 17 anos, é bonito, rico, toca violão, pinta, é bacana e um ser humano maravilhoso, que muito me ajudou no encontro dessa paz que hoje em dia é a minha constante.
E se às vezes derramo o caldo, ele é quente, não mais fervente. É isso ai. Bicho!”
Maysa
setembro de 1973

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