quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

UM DOS MEUS POETAS PREFERIDOS


Foi lendo Carlos Drummond de Andrade que o poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto descobriu que " a ironia e a prosa podiam fazer parte da poesia".

E assim, retratando seu mundo nordestino - "Vida e morte severina" - na maioria de seus poemas, incrivelmente sedutores, não deixou de recitar versos sobre o amor e o erotismo, principalmente nesse sublime " A Palavra Seda":


A atmosfera que te envolve

atinge tais atmosferas

que transforma muitas coisas

que te concernem, ou cercam.
E como as coisas, palavras impossíveis de poema

exemplo, a palavra ouro,e até este poema, seda.
É certo que tua pessoa não faz dormir,

mas desperta;

nem é sedante, palavra derivada da de seda.
E é certo que a superfície de tua pessoa externa,

de tua pele e de tudo isso que em ti se tateia,
nada tem da superfície luxuosa,

falsa, acadêmica,de uma superfície

quando se diz que ela é “como seda”.
Mas em ti, em algum ponto,talvez fora de ti mesma,

talvez mesmo no ambiente que retesas quando chegas,
há algo de muscular,de animal, carnal, pantera,de felino,

da substância felina, ou sua maneira,
de animal, de animalmente,de cru, de cruel,

de crueza, que sob a palavra gasta persiste na coisa seda.
(Quaderna, 1956-1959)

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