Foi lendo Carlos Drummond de Andrade que o poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto descobriu que " a ironia e a prosa podiam fazer parte da poesia".
E assim, retratando seu mundo nordestino - "Vida e morte severina" - na maioria de seus poemas, incrivelmente sedutores, não deixou de recitar versos sobre o amor e o erotismo, principalmente nesse sublime " A Palavra Seda":
A atmosfera que te envolve
atinge tais atmosferas
que transforma muitas coisas
que te concernem, ou cercam.
E como as coisas, palavras impossíveis de poema
E como as coisas, palavras impossíveis de poema
exemplo, a palavra ouro,e até este poema, seda.
É certo que tua pessoa não faz dormir,
É certo que tua pessoa não faz dormir,
mas desperta;
nem é sedante, palavra derivada da de seda.
E é certo que a superfície de tua pessoa externa,
E é certo que a superfície de tua pessoa externa,
de tua pele e de tudo isso que em ti se tateia,
nada tem da superfície luxuosa,
nada tem da superfície luxuosa,
falsa, acadêmica,de uma superfície
quando se diz que ela é “como seda”.
Mas em ti, em algum ponto,talvez fora de ti mesma,
Mas em ti, em algum ponto,talvez fora de ti mesma,
talvez mesmo no ambiente que retesas quando chegas,
há algo de muscular,de animal, carnal, pantera,de felino,
há algo de muscular,de animal, carnal, pantera,de felino,
da substância felina, ou sua maneira,
de animal, de animalmente,de cru, de cruel,
de animal, de animalmente,de cru, de cruel,
de crueza, que sob a palavra gasta persiste na coisa seda.
(Quaderna, 1956-1959)
(Quaderna, 1956-1959)
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